Cosi fan tutte
de W. A. Mozart
Esta ópera foi apresentada no palco do Teatro Helena Sá e Costa nos dias 8 e 9 de junho de 2017. Esteve em digressão no mês de maio do mesmo ano, passando pelo Teatro de Portimão, Cine-Teatro Avenida (Castelo Branco) e Casa das Artes de Famalicão.
Para assistir: www.esmae.ipp.pt/revisitar-palco-thsc
Com a participação da Pós-Graduação em Ópera e Estudos Músico-Teatrais da Esmae, Departamento de Teatro, Departamento de Música e Serviços de Áudio da Esmae.
Encenação: António Durães e Cláudia Marisa
Cenografia: Ricardo Preto
Luz: Rui Damas e Fernando Coutinho
Figurinos: Hugo Bonjour
Direção musical: António Saiote (Portimão) Georgina Sanchez (Castelo Branco), José Marques (Famalicão).
Direção Artística: António Salgado
A versão que veremos esta noite no palco virtual do Helena é a versão mais canónica das duas que nesse ano fizémos, apesar de, ainda assim, nesta tresleitura, toda a acção decorrer numa praia, símbolo dos amores com morte anunciada, os de verão, que darão azo a uma nova combustão amorosa no verão seguinte, se o veraneio se cumprir naquele areal e os veraneantes persistirem nas (suas) mesmas inclinações.
Trata-se de uma ópera que aborda o descomprometimento amoroso ou, melhor dito, que põe à prova os amores publicitados que duas irmãs nutrem por dois soldados. Estes amores, inquestionáveis para os apaixonados incluídos, são jogados numa roleta escondida, num palco e numa encenação burilada pela mente perversa de D. Alfonso, que põe em cena as suas dúvidas com requintes de malícia. Inventa uma guerra, muda perversamente o sentido dos amores dos apaixonados, manipula as regras do jogo, obtendo da parte da criadita-escrava das duas irmãs, um auxílio perfeito (uma assistência à sua encenação) para as suas manipulações vertiginosas.
Depois, é o jogo teatral desenfreado, uma montanha russa de emoções, rumo a uma conclusão magnânima. “Assim fazem todas”, canta D. Alfonso, algures, no crepúsculo da obra, fechando-a num primeiro gesto, falso final, para a seguir desenhar mais dois remates, recompondo a tragédia que provocou e alimentou, qual deus ex_machina, capaz de fazer e desfazer, conforme os humores humanais e poderes quasi sobrenaturais.
De curioso, imediatamente nos ocorrem várias recordações desta experiência:
1. O facto desta ser uma versão mais ou menos canónica da ópera, cantada na sua quase integralidade, mesmo que o espaço cenográfico escolhido seja uma praia onde todas as coisas acontecem e não os múltiplos espaços propostos pelo libretista. A praia como contentora dos múltiplos espaços convocados pela narrativa;
2. O facto de ter ao lado (ao lado das experiências cénicas realizadas noutro âmbito) uma outra versão, essa off, realizada no mesmo espaço cénico mas com outros corpos e outras vozes, e apenas com piano. Uma versão muitíssimo cortada (e acrescentada aqui e ali com outras coisas surpreendentes: farrapos que vêm de outras memórias) dando, ainda assim, espaço a que todos os alunos pudessem ter uma presença mais óbvia;
3. Ter levado país fora um grupo extraordinário de estudantes, extraordinário em número e talento (uma orquestra sinfónica, mais os cantores e coro, mais os tantos que apoiaram e acomodaram o espectáculo nas suas várias leituras paralelas e disciplinas técnicas) mostrando a sua arte em palcos improváveis, pela distância e pelas dificuldades óbvias da logística;
4. De realçar finalmente a ampla participação de tantos e tantos neste projecto, desde a Pós-Graduação em Ópera e Estudos Músico-Teatrais da Esmae, do Departamento de Teatro, do Departamento de Música, dos Serviços de Áudio da Esmae e, ainda, o grupo de directores de orquestra, também eles alunos em regência, globalmente dirigidos por António Saiote.
Bons tempos."
António Durães, António Saiote, Cláudia Marisa
Direção Musical: Georgina Sánchez Torres
Supervisão Musical: António Saiote