Direção: António Saiote
Solistas
Soprano: Marta Martins
Clarinete: António Saiote
Viola d'Arco: Sofia Silva Sousa
Obras de Piotr Tchaikovsky, Richard Strauss, Max Bruch e Manuel de Falla
Este concerto teve lugar no Teatro Helena Sá e Costa em dezembro de 2018
Para assistir: https://videocast.fccn.pt/live/idp01_net_ipp/esmaepporto-thsc
Este concerto foi dos mais difíceis na minha vida artística.
A homenagem que a APC decidiu prestar calou fundo no meu coração e recompensou todos estes anos dedicados à causa pública através do meu adorado instrumento. Se o peso deste evento já era enorme, tornou-se gigantesco por ter de substituir à ultima hora o maestro convidado.
Aproveitei para também fazer as minhas homenagens e escolher obras marcantes da minha vida artística.
“Abendrot” de Strauss e o duplo concerto de Bruch, já escolhidos à partida, refletem o meu prazer em dar oportunidade aos mais novos e honrar o trabalho dos seus mestres.
O Prémio Helena Costa é uma excelente iniciativa da ESMAE e assentou muito bem à Sofia Martins.
Quanto à violetista, foi a vencedora do Prémio Jovens Músicos. Ia de viagem para Lisboa, liguei a Antena Dois com um concerto a decorrer. Fiquei muito impressionado com o som de viola e a maestria que revelava. Achei que seria bonito que fosse essa jovem brilhante a partilhar este concerto comigo. Assim também pude honrar outra excelente iniciativa da Antena Dois à qual estive ligado do início.
Na segunda parte dirigi “Romeu e Julieta” pela primeira vez. Foi a primeira obra que trabalhei com o meu querido mestre Georges Hurst o qual foi o aluno mais brilhante de Pierre Monteux.
Para terminar, “El Sombrero de Tres Picos”.
Com 14 anos fui levado pela minha querida professora de educação musical - Maria Amélia Abreu - ao São Carlos. Tratava-se da visita da Companhia Nacional de Espanha. Do programa constavam os três bailados de Manuel de Falla - A Vida Breve, A Dança do Fogo e o Sombrero de Tres Picos. A professora pediu que eu fosse escrevendo os vários ritmos durante o espectáculo!
Em 1977, assisti aos ensaios do Sombrero no São Carlos com o maestro Garcia Navarro o qual iniciou sua carreira na RDP do Porto.
A obra reflete algo que me é muito querido: a resistência à tirania. O tricornio era o capacete da guarda civil de Espanha durante a ditadura. Símbolo da opressão, da tirania e da injustiça, a mesma que matou Garcia Lorca e António Machado, próximos de Manuel de Falla.
O primeiro quadro descreve a vida pacata de uma aldeia andaluza. O segundo começa com a entrada do Corregedor que vem cobrar os impostos e sangrar ainda mais o coração dos pobres camponeses. Abusando da sua autoridade, assedia a mulher do moleiro. Este inicia uma dança de resistência e de bravura. O terceiro quadro começa com a agitação dos camponeses liderados pelo moleiro, decididos a correr com os polícias e o Corregedor. Acabam triunfantes e felizes. Pelo menos naquele momento souberam conquistar a liberdade, em comunidade e fraternidade.
A Arte nunca é entretenimento. Revela-se pelo seu compromisso com a Humanidade.
António Saiote