Para encerramento do ciclo de transmissões “Revisitar o palco do THSC” que aconteceu ao longo de todo este tempo de encerramento do Teatro Helena Sá e Costa, e porque a atividade artística da ESMAE não se limita a esta sala, apresentaremos no palco virtual que habitualmente ocupamos, a ópera de Hildegard von Bingen “ORDO VIRTUTUM”. Esta ópera, uma produção Ópera Estúdio da ESMAE, trabalho da Pós-graduação em Ópera, com a participação dos Departamentos de Música e Teatro e do Curso de Música Antiga e colaboração do Teatro Nacional de S. João (espetáculo integrado no programa "As Escolas de Teatro no TNSJ"), subiu ao palco do Mosteiro de São Bento da Vitória nos dias 18 e 19 de julho de 2015.
Estaremos de volta brevemente, dando continuidade a este projeto de levar a casa de todos a programação cultural da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo.
Transmissão: quarta-feira, 29 de julho, 21h30
Para assistir: www.esmae.ipp.pt/revisitar-o-palco
Aceder à folha de sala original, edição do TNSJ (pdf)...
Uma mulher fora do seu tempo
Aristocrata, abadessa e monja beneditina do século XII. Mística e poetisa. Compositora, conselheira e terapeuta. Escritora de uma imensa e relevante obra literária, teológica e científica. Correspondente de figuras de relevância na época, como imperadores, reis, bispos e abades, foi reconhecida pelo próprio Papa Eugénio III como uma visionária. Capaz de responder quer a temáticas religiosas e políticas da época quer a questões relativas ao comportamento humano e à natureza. Autorizada a divulgar um complexo quadro visionário e a pregar em público na sua região e em diversas outras cidades.
A sua prodigiosa inteligência e a qualidade do seu trabalho consolidaram o sucesso alcançado, tornando possível que na história da Igreja, numa época como a Idade Média, marcadamente dominada pelo saber masculino, uma mulher alcançasse tamanho destaque e reconhecimento.
Ordo Virtutum é um drama litúrgico escrito e composto há mais de 900 anos e conta a história da Alma que procura no mundo terreno a razão da sua essência e existência. Conta‑nos o seu caminho, os seus passos e as suas escolhas, fala‑nos da construção e da desconstrução da sua experiência, da sua educação e da sua progressiva autoconsciência, e de como, através desta, atinge o reino da Virtude e o direito à sua Origem Divina.
Em Ordo Virtutum, encontramos as mesmas peculiaridades que caracterizam toda a obra musical de Hildegard von Bingen, na qual o uso de grandes melismas alterna com um tipo de composição mais silábico e o recurso à variação constante de séries de fórmulas melódicas, cujas pequenas variações introduzem a novidade contínua. Com a alternância entre o modo de Ré e o modo de Mi, consegue, através das suas diferenças estruturais, enfatizar a acção e o drama. Em simultâneo, utiliza uma tessitura alargada, nunca vista em nenhum tipo de música escrita até à sua época.
Filipa Taipina
O regresso da Alma
Ordo Virtutum (latim para Ordem das Virtudes) é um drama litúrgico, uma peça alegórica acerca da moralidade da alma, composta em cerca de 1151 por Hildegard von Bingen. É considerada a primeira ópera europeia e, simultaneamente, o único drama musical medieval com texto e música que foi capaz de sobreviver. Uma curta versão de Ordo Virtutum aparece no final de Scivias, o seu mais notável trabalho religioso, onde descreve as visões que teve: “Aos três anos vi uma luz…, aos oito anos fui oferecida a Deus…, até aos quinze vi muitas coisas…”
Ordo Virtutum relata a luta da alma humana, ou Anima, entre as Virtudes e o Diabo. A obra está escrita em verso dramático e contém 82 melodias diferentes. Todas as partes são cantadas em cantochão, exceto a parte do Diabo. Há uma alternância entre as partes solistas e as do(s) coro(s), bem como de linhas melismáticas versus silábicas.
Foi sugerido que a Alma representa Richardis von Stade, amiga e freira companheira de Hildegard, a quem deixou para se tornar madre superiora de outro convento. Hildegard tentou que esta nomeação fosse revogada, apelando inclusive ao Papa Eugénio III. Contudo, não foi bem‑sucedida e Richardis partiu, apenas para falecer pouco tempo depois. Antes de morrer, Richardis disse ao seu irmão que queria regressar para junto de Hildegard, regresso em tudo semelhante ao da Alma arrependida de Ordo Virtutum.
Cláudia Marisa
Produção e coordenação artística: António Salgado
Direção musical: Filipa Taipina
Assistência de direção musical: Esperanza Rama
Encenação: Cláudia Marisa
Cenografia: Ricardo Preto
Figurinos: Manuela Bronze
Desenho de luz: Rui Damas, Fernando Coutinho
Vídeo: João Paulo Gomes