"A Criação" de Haydn ganha vida com orquestra, coro e solistas da ESMAE e ESE
6 e 7 de junho, 21h00, Igreja da Lapa, Porto.
A Orquestra Clássica da ESMAE, sob a direção musical do maestro Jan Wierzba, junta-se a solistas e aos Coros da ESMAE e da ESE, sob a direção de Barbara Francke e Aoife Hiney, para interpretar uma das obras maiores do compositor austríaco: a Oratória “A Criação”. Para muitos musicólogos, esta obra prenuncia já a sensibilidade romântica, sobretudo pela ousadia e força expressiva da sua abertura, “A Representação do Caos”, que viria a inspirar compositores como Richard Wagner. O espetáculo terá lugar na Igreja da Lapa, no Porto, em duas noites consecutivas: 6 e 7 de junho, às 21h00. A entrada faz-se mediante convite e está associado um donativo mínimo sugerido de 5,00€.
Integrado nas comemorações dos 40 anos do Politécnico do Porto, este espetáculo é uma afirmação do papel das artes e da cultura na formação e na identidade do ensino superior.
Mais sobre os 40 anos do P.PORTO
Reserva para o e-mail: cultura@irmandadedalapa.pt
Intérpretes:
Coro ESMAE, direção de Barbara Francke
Coro ESE, direção de Aoife Hiney
Orquestra Clássica da ESMAE
Solistas
Jan Wierzba, direção
A par de Mozart e Beethoven, Franz Joseph Haydn forma a célebre Trindade Clássica Vienense, sendo figura central do Classicismo e elo vital entre o final do Barroco e os primórdios do Romantismo. Amigo íntimo de Mozart e admirado por Beethoven, Haydn tornou-se um marco incontornável na história da música erudita ocidental. Composta na última década de vida de Haydn, “A Criação” é considerada uma das suas obras mais inspiradas e profundas. O texto, baseado no Livro do Génesis, nos Salmos e no poema “O Paraíso Perdido” de John Milton, exalta a beleza da Criação e a grandeza do Criador.
Composta na última década de vida de Haydn, “A Criação” é considerada uma das suas obras mais inspiradas e profundas. O texto, baseado no Livro do Génesis, nos Salmos e no poema “O Paraíso Perdido” de John Milton, exalta a beleza da Criação e a grandeza do Criador.
"A Criação de Haydn e a eternidade
Aforismos dirigidos a quem nos vai ouvir
No princípio, Haydn também ouviu o silêncio. E desse silêncio, brotou som, melodias, acordes e a intensidade de luz — não a luz do mundo, mas aquela luz que ilumina a alma em forma de som, de assombro e de memória. A Criação não se lê no tempo — A Criação o que faz, então? Funda o tempo.
O que Haydn escreveu não é apenas música: é a escultura do invisível e do inaudível. É uma cosmogonia entoada por instrumentos que ousaram ser deuses, ou demiurgos, apenas por um instante. “E houve luz” — diz o coro. Ouviremos todos isso.
Mas, como todos sabemos bem, quem ouve, sente que não é apenas o Génesis que se canta a si próprio, é o próprio poder de criar que aqui se manifesta.
Pois, cada nota aqui ouvida esta noite é semente... e cada pausa será uma espécie de vazio fértil. A arte, todos sabemos disso, não tem data de validade, porque não tem data de nascimento. O que nasce da mente fala a todos os tempos, ou a nenhum em particular. Haydn não escreveu para Viena, nem para 1798. Escreveu para o ouvido que ainda não existe, talvez para aqueles ouvidos que aqui estão hoje, mas sobretudo para o coração que há de pulsar em séculos por vir.
O que é eterno não se grita — ecoa e ressoa indeterminadamente.
É isso que acontece com A Criação: não como um eco que se apaga, mas como uma ressonância que se funda. Se, agora olharmos fixamente para a Lapa, lugar de culto e de recato, daremos conta que a orquestra não está a mais. É apenas, simultaneamente, jardim e cataclismo. O coro, uma assembleia de anjos, de querubins e de átomos audíveis. Os solos serão o indicador do esforço humano em tentar nomear o indizível. A música aqui não afirma: interroga-se. Não explica a Criação, mas revive o espanto primordial diante do existir, e em que cada acorde é oração, cada silêncio, uma reverência. Ali, não há dogma, apenas o sagrado da dúvida que canta. Ficamos a saber que a fé de Haydn não é cega, é ouvinte. E talvez o ouvido, mais do que a visão, seja então o sentido da transcendência.
E no fim de tudo, quando “o homem e a mulher” entram na cena sonora, é a arte que se contempla a si mesma — maravilhada e atenta com o seu próprio dom de gerar beleza. O compositor que cria mundos sabe que a sua obra será sempre incompleta, não por falha, mas por abundância. Cada audição é uma nova aurora. Cada gesto do maestro, uma repetição irrepetível do início.
Haydn não criou uma oratória.
Elevou o gesto da criação artística ao nível da própria Criação.
E ao fazê-lo, disse o indizível:
— Que a arte não se explica.
— Que a arte não termina.
— Que, talvez, Deus seja apenas o som que vibra para sempre."
ESMAE na Igreja da Lapa, 6 e 7 de junho 2025
Texto de Mário Azevedo
No ano em que o Politécnico do Porto celebra quatro décadas de existência, a sua presença será especialmente bem-vinda nesta ocasião que une a música, a criação e a excelência artística no seio da nossa comunidade académica e cultural.
FICHA ARTÍSTICA
Maestro
Jan Wierzba
Orquestra
Violinos I
Pedro Rebelo, Vasco Teixeira, Leonor Brunner, Daniela Alves, José Cândido, Pedro Bladh, Pilar Martins, Carolina Mota, David Silva, Clara Santos
Violinos II
Inês Correia, Diogo Lopes, Paulo Ferreira, Ivona Perkovic, Leonor Santos, Catarina Ferreira, Bárbara Paradela, Sara Carneiro
Violas
Diana Moreira, Francisco Salgado, Francisco Pereira, Luísa Torres, Leonor Pinto, Bernardo Almeida
Violoncelos
Sílvia Adolfo, Maria Lopes, Leonardo Vieira, Rita Dias, Catarina Alves
Contrabaixos
Tiago Machado, Marco Carneiro, João Tedim, Gil Morais
Flautas
Filipa Figueiredo, Ana Fernandes, Catarina Alves
Oboés
Diana Magalhães, Miguel Silveira
Clarinetes
Ana Costa, Maria André
Fagotes
Beatriz Fernandes, Luciana Araújo, Sara Silva (contrafagote)
Trompas
Pedro Monteiro, Pedro Guimarães
Trompetes
Catarina Farinha, Diogo Ribeiro
Trombones
Tomás Gomes, Carolina Barbosa, Tomé Correia
Cravo
António Figueiredo
Tímpanos
Paulo Dias
Solistas
Soprano
Ana Costa, Ana Cruz, Cristiana Costa, Rita Gama
Tenor
João Pereira
Barítono
Gustavo Godinho, Pedro Santos
Baixo
Miguel Marinho
Coro
Coro de Câmara da ESMAE
Alexandre Roque, Ana Costa, António Cardoso, Beatriz Oliveira, Cristiana Costa, Francisco Fernandes, Hugo Moreira, João Bastos, Liva Spieß, Luís Ventura, Maria Lira, Mário Tina, Marta Silva, Mateus Queirós, Miguel Marinho, Nuno Oliveira, Paulo Ventura, Pedro Borges, Pedro Mesquita, Sofia Gomes, Theodore Mezei, Vitória Ribeiro.
Coro Geral da ESMAE
Ana Almeida, André Martins, Bruno Pedrosa, Danilo Cardozo, Hugo Pereira, João Veríssimo, João Vieira, Miguel Santos, Paulo Preto, Ricardo Alves, Roberto Rosca, Sabela González, Samuel Dutra, Teresa Silveira, Tomas Ferreira;
Maestrina: Barbara Francke
Coro Misto da ESE
Afonso Aires, Afonso Mendes, Ana Andrade, Ana Torres, Ângela Borges, Bruna Salvador, Carolina Mendes, Deolinda Lopes, Emanuel Garçês, Eva Sousa, Francisca Pinho, Gabriel Azevedo, Helena Silva, Hugo Tiago, Ivan Fidalgo, Joana Guerra, Joana Lopes, Joana Pereira, João Fonseca, João Cunha, Lauro Luís, Lydia Munday, Maria Delgado, Mariana Faria, Monica Mota, Rafaela Barbosa, Roxolana Dunets, Ruben Pinho, Sara Pereira, Tiago Macedo, Tiago Silva, Tomás Preto
Coro Feminino da ESE
Bruna Lima, Clara Ruas, Cláudia Oliveira, Eva Danin, Inês Tavares, Juliana Campos, Leonor Gonçalves, Margarida Silva, Maria Sousa, Maria Ferreira, Maria Pinto, Mariana Dias, Marta Pinto, Sílvia Tavares
Maestrina: Aoife Hiney