A ESMAE recebe o compositor Dimitri Papageorgiou, professor na Universidade Aristóteles de Salónica, na Grécia, para uma palestra aberta à comunidade académica. O evento terá lugar na quinta-feira, 4 de dezembro, das 17h30 às 19h30, na sala 2.9.
Intitulada de ‘Form as Weather: Rethinking Structure Through Relations, Timbre, and Time’, nesta sessão, Dimitri Papageorgiou abordará como o seu trabalho trata o som não como portador de narrativa ou identidade temática, mas como um campo dinâmico de relações.
Form as Weather: Rethinking Structure Through Relations, Timbre, and Time
Nesta apresentação abordarei a forma como o meu trabalho trata o som não como portador de uma identidade narrativa ou temática, mas como um campo dinâmico de relações. Interesso-me por situações musicais em que os acontecimentos não são subordinados à lógica desenvolvimentista tradicional, nem isolados como objetos autónomos, mas antes participam numa ecologia em evolução, feita de texturas, gestos e comportamentos temporais. Em vez de construir teleologias lineares, encaro a forma como um fenómeno emergente, resultante da interação dos materiais, dos seus padrões de decaimento e da forma como os intérpretes negoceiam o tempo. Gestos, técnicas e micro-infletções tornam-se agentes dentro deste ecossistema, definindo como os sons surgem, coexistem, se dissolvem ou se retiram.
Ao longo da sessão, abordarei o modo como a coordenação coletiva, o gesto performativo e a resistência do material se tornam forças geradoras. O objetivo não é delinear um estilo, mas revelar como os sons coexistem, interferem e se retraem — como criam um mundo cuja coerência emerge da sua própria ecologia interna. Será dada particular ênfase ao timbre enquanto função estrutural. Ataque, fricção, ressonância e o desenho da envolvente adquirem peso formal, assumindo frequentemente o papel historicamente atribuído à harmonia ou à transformação motivada. Silêncio, decaimento, inflexão microtonal e ambiguidade gestual não são ornamentos expressivos, mas elementos que regulam a atenção e moldam a perceção temporal. Neste sentido, a forma comporta-se menos como arquitetura e mais como clima: acumula-se, dispersa-se e reorganiza-se em resposta às suas condições internas.
Em última análise, esta palestra propõe uma forma de pensar a composição em que o material não é moldado em estruturas predeterminadas, mas autorizado a desdobrar-se segundo a sua própria lógica — uma abordagem que destaca a fragilidade, a contingência e a natureza relacional da escuta.
Biografia:
Dimitri Papageorgiou é um compositor e académico grego cuja obra se situa na interseção entre a composição contemporânea, a exploração intercultural e a inovação tecnológica. Reconhecido internacionalmente pelo seu contributo para a nova música, as suas composições foram apresentadas em mais de 60 cidades na Europa, Américas, Ásia e América Latina, afirmando-o como uma voz dinâmica no panorama global da música contemporânea.
Papageorgiou desenvolveu uma linguagem composicional que interroga temas como a memória, o tempo e a reconstrução, integrando frequentemente modelos algorítmicos e instrumentação intercultural. As suas obras inspiram-se, por vezes, na relação entre ruído e música, em morfologias espectrais e na reinterpretação de instrumentos tradicionais em contextos vanguardistas. As composições de Papageorgiou revelam uma constante fascinação pela experimentação tímbrica e pela inovação estrutural. Entre os trabalhos mais recentes destacam-se Oumuamua (2022–2023), para kanun e quarteto de cordas, encomenda do Sonar Quartet com o apoio da Ernst von Siemens Music Foundation; Divagations (2022), para quarteto de percussão, encomenda do Bremer Percussion Ensemble e estreada na série Unerhörte Musik em Berlim; Fourteen Echoes for an Absence (2024), para piano autómato e ensemble, encomenda do Musikprotokoll Graz; e Avant l’eclipse (a lullaby for the symmetries as they vanish…), encomendada pelo Daegu Festival, Coreia do Sul.
As suas colaborações incluem encomendas e performances por alguns dos mais destacados ensembles internacionais, como Arditti String Quartet, Klangforum Wien, Ensemble Recherche, Sonar Quartet, AsianArt Ensemble, Proxima Centauri, Ensemble New Babylon, Ensemble Zeitfluss e Bremen Percussion Ensemble, entre outros. A sua música foi apresentada em salas de renome, como o Konzerthaus de Berlim e Viena, Brucknerhaus Linz, Megaro Mousikis de Atenas e Salónica, Alternative Stage da Ópera Nacional Grega, bem como em festivais como Darmstadt International Ferienkurse für Neue Musik, Zeitströme (Darmstadt), NUNC (Chicago), Musikprotokoll Graz, Klangspuren, Crossroads: Contemporary Music Days (Arménia), ICMC, Daegu Festival (Coreia do Sul) e Unerhörte Musik (Berlim).
A sua carreira académica é igualmente distinta. É Professor de Composição no Departamento de Estudos Musicais da Universidade Aristóteles de Salónica, onde leciona desde 2007. A sua abordagem pedagógica enfatiza a fusão entre rigor teórico e criatividade experimental, refletida na orientação de investigação doutoral sobre temas que vão desde a instrumentação intercultural até à dramaturgia do som espacial.
A investigação interdisciplinar é um dos pilares da sua prática. Como participante criativo em projetos como Patterns of Intuition (2012–2014) e Algorithmische Komposition im Kontext Neuer Musik (2010–2012) do IEM Graz, explorou o papel da composição algorítmica na modelação da intuição criativa. A sua produção académica inclui artigos científicos sobre semelhança gestual em música e matemática, análises de obras de Ligeti e Webern, e capítulos em antologias dedicadas à criatividade algorítmica.
Enquanto organizador cultural, Papageorgiou cofundou e dirige o outHEAR New Music Week (2018–presente), um festival e academia internacional na Grécia que aproxima jovens compositores de ensembles como o Klangforum Wien. Coestabeleceu ainda as Days of Greek Music Creation (2023), dedicadas a celebrar o património musical grego da Antiguidade à vanguarda, e foi consultor artístico do Festival Internacional de Música Eletrónica de Teerão. A sua atividade de mentor estende-se globalmente, incluindo programas como Labor Beethoven 2020 (Berlim) e Composer Collider Europe, promovendo o diálogo entre tradições musicais europeias e não europeias.


